domingo, outubro 01, 2006

REDENÇÃO DE CAM


Professor Morche Ricardo Almeida
Pós-graduado em Pedagogia Gestora



Para o leigo em arte e história o quadro “Redenção de Cam”, (1895) de Modesto Broccos, representa apenas mais um trabalho artístico. A leitura sugere uma família à porta de sua residência recebendo a visita de uma senhora que abençoa a criança no colo de sua mãe, enquanto o pai observa.
A intenção do pintor Modesto Broccos ao pintar uma família, foi, segundo estudos e registros, mostrar a possibilidade do branqueamento do povo brasileiro. Para tanto utilizou-se de símbolo religioso em seu trabalho. O título da obra refere-se à passagem bíblica onde o patriarca Noé amaldiçoa seu filho Cam.

A narração da Escritura prossegue dando o elenco das gerações de Cam, Sem e Jafé. “Camitas” seriam os povos escuros da Etiópia, da Arábia do Sul, da Núbia, da Tripolitânia, da Somália (na verdade, os africanos do Velho Testamento) e algumas tribos que habitavam a Palestina antes que os hebreus as conquistassem. (Bosi, 1996: p. 257-258).

Membros da Igreja Católica com apoio da burguesia européia aproveitaram tal relato para justificar a escravidão do negro africano.
Redenção, o mesmo que salvação. Logo “Redenção de Cam”, a salvação dos descendentes de Cam, segundo os europeus, seria tornar-se escravos na América servindo ao bel-prazer e a ganância financeira de grupos inescrupulosos.
Mais tarde, ao perceberem que os africanos, trazidos à força para a América, poderiam ser uma ameaça a hegemonia branca, tentam, através da miscigenação, mudar o que não pode ser mudado.
O autor do quadro, iluminado em sua inteligência, representou o que seria essa mudança genética. A senhora negra, a África original. O senhor branco, a Europa original. A jovem entre ambos é o resultado da mistura dos dois continentes África e Europa. Uma jovem América, mulata. A criança é o desejo do europeu dominador, machista, preconceituoso, soberbo. A criança é aquele que é sem nunca ter sido, um branco com raiz negra. A pele é branca como a pele da Europa, porém em suas veias e em sua história existe a África escondida e negada.


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BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Cia das Letras, 1996. p. 257-258.

Um comentário:

Jéssica disse...

Interessante ;D