Naquele início de setembro dos anos 1970, Santana do Ipanema parecia respirar um ar diferente — um ar de expectativa, de ritmo marcado pelas batidas da fanfarra e pelo orgulho estampado nos rostos de crianças e adultos. Era como se, durante a Semana da Pátria, a cidade inteira se lembrasse de que fazia parte de algo maior: o Brasil.
Logo no dia primeiro, antes mesmo do sol ganhar força,
ouvia-se ao longe o som grave do bumbo e o tilintar dos pratos da banda
fanfarra. À frente, com postura impecável, seguia o senhor Miguel Bulhões,
mastro respeitadíssimo, conduzindo cada passo com seriedade de comandante e
ternura de educador. As ruas principais iam acordando junto com a música;
janelas se abriam, moradores acenavam, crianças corriam para ver a banda
passar.
Para os alunos, aquela semana era mais do que um conjunto
de eventos — era um rito de passagem. A corrida do fogo olímpico, talvez o mais
esperado dos momentos, mobilizava toda a juventude santanense. Alunos-atletas
treinavam com antecedência, sabiam que ali não se tratava apenas de correr, mas
de levar nas mãos um símbolo. O fogo, revezado de rua em rua, tinha destino
certo: a praça do Ginásio Santana, no bairro do Monumento.
Quando a tocha finalmente chegava, a multidão se calava.
A bandeira era homenageada, a pira era acesa e, dali em diante, queimaria firme
até o dia sete. Ao seu lado, alinhadas, tremulavam as bandeiras do Brasil, de
Alagoas e de Santana do Ipanema. E como guardiões daquele fogo simbólico, dois
alunos permaneciam em vigília durante todo o dia — impecavelmente
uniformizados, sapatos engraxados, corpo ereto, expressão séria. Era um orgulho
quase solene ser escolhido para ficar ali, ainda que por uma hora.
A praça, durante a semana, nunca ficava vazia. Havia
apresentações, declamações, pequenos desfiles, dramatizações, às vezes apenas
grupos de estudantes cantando o Hino Nacional com fervor de quem acredita.
Participar era uma necessidade, um gesto de pertencimento. Os pais acompanhavam
de perto, vibravam, ajeitavam uniformes, davam conselhos; sabiam que aqueles
momentos moldavam o caráter dos filhos.
Em cada olhar juvenil, havia o brilho de quem compreendia
— ainda que de forma simples — que o patriotismo não estava apenas num hino ou
numa bandeira, mas na ideia de fazer parte de um país que era seu. Os jovens
validavam sua pátria com passos firmes no calçamento de paralelepípedos quente,
com a mão no peito durante o hasteamento, com o respeito às cores que
representavam sua história e seu futuro.
E assim, ano após ano, setembro transformava Santana do
Ipanema num grande palco de civismo. Uma cidade pequena, mas repleta de grandes
sentimentos. Uma época em que o Brasil cabia inteiro naquela praça iluminada
pela pira acesa, pela fanfarra que ecoava nos becos e, sobretudo, pelos
corações jovens que, com inocência e orgulho, aprendiam a amar sua pátria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário