Santana do Ipanema sempre foi mais que um ponto no mapa. Foi — e ainda é — um lugar de pertencimento, um chão que cria raízes invisíveis nos pés de quem nasce ali e também nos que chegam por afeto. Quem parte, parte com o corpo, mas deixa o coração ancorado na cidade, esperando o mês de julho para bater mais forte.
Quando a festa de Senhora Santana se aproximava, o tempo
parecia mudar de ritmo. Antes mesmo do soar das primeiras novenas, os ônibus já
rasgavam a estrada trazendo de volta filhos ausentes, jovens que haviam ido
estudar em Maceió, Recife, São Paulo, e retornavam com sotaques levemente
misturados e histórias novas nos bolsos. Vinham cheios de saudade, trazendo nos
olhos o brilho de quem nunca deixou de ser santanense. As casas se preparavam,
as redes eram armadas, os colchões estendidos, e a cidade se enfeitava não só
de bandeirolas, mas de reencontros.
Nos anos 70, o coração desses encontros pulsava forte na
Toca do Pato, em frente à praça do Ginásio Santana, sob a sombra da igrejinha
de Nossa Senhora da Assunção. Ali, os jovens se reuniam para contar o mundo que
tinham visto fora, mas também para reafirmar o amor pelo mundo que os havia
criado. Riam alto, gesticulavam, planejavam o futuro e, sem perceber, ensinavam
às crianças que observavam de longe que crescer também podia ser bonito.
Foi para essa juventude que nasceu a Festa da Juventude.
No sábado à noite, o baile era mais que um evento: era um rito. A sociedade
inteira se fazia presente, e os olhares se voltavam para o momento solene e
encantado da escolha da Rainha da Juventude. A jovem coroada não era apenas a
mais bela; era o símbolo de uma geração cheia de sonhos, que acreditava no
amanhã sem abandonar suas origens.
O domingo amanhecia inquieto, como se a cidade acordasse
mais cedo. As crianças, vindas de todas as ruas e bairros, seguiam em fila para
o bairro do Monumento. Ali, a praça do ginásio se transformava em palco e
escola. As competições ensinavam mais que agilidade: ensinavam cooperação,
alegria, respeito. Havia a corrida de carros, onde duplas enfrentavam provas
curiosas — o ovo equilibrado na colher, a linha passada pela agulha com mãos
trêmulas, a maçã mordida no ar, os balões estourados na rampa improvisada. O
povo ria, torcia, aplaudia. Não importava quem ganhava; importava participar.
Depois vinham as bicicletas, o futebol, e então, a
atração mais esperada: a corrida de jegues. Os animais chegavam enfeitados,
batizados com nomes engraçados, trazendo consigo a simplicidade e o riso fácil
do sertão. O locutor narrava cada passo pelo carro de som, e entre tombos,
empacadas e relinchos, a multidão vibrava. As crianças, de olhos arregalados,
aprendiam ali que a alegria podia ser simples, coletiva e verdadeira.
Hoje, quem viveu aquela época guarda essas lembranças como
quem guarda um relicário. Os jovens dos anos 70 aprenderam a valorizar o
retorno, o abraço, a cidade-mãe. As crianças, por sua vez, aprenderam a
admirar, a sonhar e a entender que Santana do Ipanema não era apenas o lugar
onde se morava, mas o lugar onde se aprendia a ser gente. E assim, entre
festas, risos e saudades, Santana seguia — e segue — ensinando gerações
inteiras que certas cidades não se deixam ir, porque moram para sempre dentro
da gente.

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