sábado, dezembro 27, 2025

JULHO EM SANTANA: QUANDO A JUVENTUDE VIRAVA FESTA



            Santana do Ipanema sempre foi mais que um ponto no mapa. Foi — e ainda é — um lugar de pertencimento, um chão que cria raízes invisíveis nos pés de quem nasce ali e também nos que chegam por afeto. Quem parte, parte com o corpo, mas deixa o coração ancorado na cidade, esperando o mês de julho para bater mais forte.

            Quando a festa de Senhora Santana se aproximava, o tempo parecia mudar de ritmo. Antes mesmo do soar das primeiras novenas, os ônibus já rasgavam a estrada trazendo de volta filhos ausentes, jovens que haviam ido estudar em Maceió, Recife, São Paulo, e retornavam com sotaques levemente misturados e histórias novas nos bolsos. Vinham cheios de saudade, trazendo nos olhos o brilho de quem nunca deixou de ser santanense. As casas se preparavam, as redes eram armadas, os colchões estendidos, e a cidade se enfeitava não só de bandeirolas, mas de reencontros.

            Nos anos 70, o coração desses encontros pulsava forte na Toca do Pato, em frente à praça do Ginásio Santana, sob a sombra da igrejinha de Nossa Senhora da Assunção. Ali, os jovens se reuniam para contar o mundo que tinham visto fora, mas também para reafirmar o amor pelo mundo que os havia criado. Riam alto, gesticulavam, planejavam o futuro e, sem perceber, ensinavam às crianças que observavam de longe que crescer também podia ser bonito.

            Foi para essa juventude que nasceu a Festa da Juventude. No sábado à noite, o baile era mais que um evento: era um rito. A sociedade inteira se fazia presente, e os olhares se voltavam para o momento solene e encantado da escolha da Rainha da Juventude. A jovem coroada não era apenas a mais bela; era o símbolo de uma geração cheia de sonhos, que acreditava no amanhã sem abandonar suas origens.

            O domingo amanhecia inquieto, como se a cidade acordasse mais cedo. As crianças, vindas de todas as ruas e bairros, seguiam em fila para o bairro do Monumento. Ali, a praça do ginásio se transformava em palco e escola. As competições ensinavam mais que agilidade: ensinavam cooperação, alegria, respeito. Havia a corrida de carros, onde duplas enfrentavam provas curiosas — o ovo equilibrado na colher, a linha passada pela agulha com mãos trêmulas, a maçã mordida no ar, os balões estourados na rampa improvisada. O povo ria, torcia, aplaudia. Não importava quem ganhava; importava participar.

            Depois vinham as bicicletas, o futebol, e então, a atração mais esperada: a corrida de jegues. Os animais chegavam enfeitados, batizados com nomes engraçados, trazendo consigo a simplicidade e o riso fácil do sertão. O locutor narrava cada passo pelo carro de som, e entre tombos, empacadas e relinchos, a multidão vibrava. As crianças, de olhos arregalados, aprendiam ali que a alegria podia ser simples, coletiva e verdadeira.

            Hoje, quem viveu aquela época guarda essas lembranças como quem guarda um relicário. Os jovens dos anos 70 aprenderam a valorizar o retorno, o abraço, a cidade-mãe. As crianças, por sua vez, aprenderam a admirar, a sonhar e a entender que Santana do Ipanema não era apenas o lugar onde se morava, mas o lugar onde se aprendia a ser gente. E assim, entre festas, risos e saudades, Santana seguia — e segue — ensinando gerações inteiras que certas cidades não se deixam ir, porque moram para sempre dentro da gente.


 

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